PROBLEMAS E SOLUÇÕES PARA AS JOVENS MULHERES: Um caminho para sair do isolamento e da opressão
- Lêgerîn 2

- 18 de out.
- 8 min de leitura
Mizgîn Avzem

A sociedade da modernidade capitalista está mergulhada num individualismo profundamente enraizado. Este individualismo não é um acaso, mas sim uma ferramenta sistémica de exploração e opressão usada conscientemente pelo sistema e que visa isolar o desenvolvimento das pessoas e os seus esforços de resistência. Acima de tudo, as jovens mulheres são afetadas por este tipo de divisão, pois as suas lutas são moldadas não só pelas normas sociais, mas também pela opressão específica de género e por hierarquias violentas. A narrativa da sociedade é:
“Estás sozinha – ninguém te compreende, ninguém te ajuda, tens de lutar contra o mundo inteiro por ti própria.”
Este isolamento não é mantido por acidente nem por mal-entendido – é uma ferramenta estrutural de um sistema que é fundamentalmente contra a organização coletiva das mulheres. O sistema força as mulheres a tornarem-se cada vez mais fracas na sua solidão e a fazer com que a sua resistência desapareça.
Nós, como jovens mulheres, somos confrontadas diariamente com a realidade do sexismo, da violência sexual e da opressão patriarcal e muitas vezes sentimos que a sociedade nos falhou. As múltiplas microagressões em que vivemos – sejam comentários casuais, a forma como nos diminuímos no nosso papel de mulheres, ou ataques verbais ou físicos violentos – são normalizadas e retratadas como inofensivas. Em muitos casos, atos de violência e discriminação são ignorados ou minimizados, e as mulheres são empurradas para o silêncio. É aqui que surge o perigo do isolamento; começamos a ver as nossas experiências como fraquezas pessoais e individuais em vez de vermos as razões estruturais da opressão. Lutamos com enormes fissuras internas – sentimo-nos sozinhas nas nossas experiências e não percebemos que essas experiências fazem parte de um problema social muito maior.
Este estado de isolamento divide as forças de resistência. O sistema que apoia o capitalismo assenta na dispersão das forças de resistência dos grupos oprimidos para que estes não se levantem unidos contra o sistema. O individualismo capitalista não é uma condição pessoal de alienação, mas um instrumento político que dissolve o potencial revolucionário na sociedade. Promove a ideia de que cada um é responsável pelo seu próprio bem-estar e de que os problemas sociais só podem ser superados através do esforço individual. Esta ideia é uma armadilha – esconde o facto de que os problemas da jovem mulher não são deficiências individuais, mas sim a expressão de um sistema político e social completo com o objetivo de nos oprimir e manter para baixo.
A ideologia da libertação coletiva
A resposta a este isolamento e divisão é proposta por Abdullah Öcalan, pensador ideológico do Movimento de Libertação Curdo, cujos pensamentos e teorias destacam a necessidade de libertação coletiva e de um amplo movimento de solidariedade.
A resposta a este isolamento e divisão é proposta por Abdullah Öcalan, pensador ideológico do Movimento de Libertação Curdo, cujos pensamentos e teorias destacam a necessidade de libertação coletiva e de um amplo movimento de solidariedade.
A sua filosofia está enraizada na libertação da mulher não apenas como parte de um processo político, mas como a questão central de uma revolução social completa. Para Öcalan, a questão da liberdade das mulheres não pode ser separada da questão da libertação de todos os povos e classes oprimidas. Abdullah Öcalan fala de “Confederalismo Democrático” baseado na solidariedade, cooperação e autoadministração. Esta teoria política opõe-se diretamente às estruturas capitalistas e de Estado-nação, que assentam em hierarquia, exploração e violência. Com a proposta do Confederalismo Democrático, defende uma sociedade que superou o capitalismo e se organiza num sistema descentralizado não centrado no poder.
A filosofia política de Öcalan é uma nova avaliação radical das normas sociais até hoje. Exige o reconhecimento de nós, mulheres, como protagonistas da sociedade e como base de uma nova ordem social. Para Öcalan, a organização das mulheres não é apenas uma necessidade política, mas o passo mais importante para um mundo mais justo e livre.
A psicologia da alienação: a forma como o sistema isola as jovens mulheres
A dimensão psicológica do isolamento da jovem mulher é de importância decisiva, pois revela não só as formas externas e visíveis de opressão, mas também aquelas que atuam profundamente no interior.
Comentários sexistas, a redução das mulheres ao seu aspeto, a constante objetificação dos nossos corpos e a minimização da violência sexual são apenas alguns dos mecanismos que causam isolamento. Muitas de nós, jovens mulheres, acreditamos que temos de obedecer para sermos reconhecidas e respeitadas. Vemos os nossos problemas como desafios pessoais e não como lutas coletivas. Os meios de comunicação, a publicidade e os discursos públicos repetem continuamente: “Tens de ser perfeita para conseguir alguma coisa”, “Tens de te curar a ti mesma para sobreviveres”, “Os teus problemas são só teus e tens de os ultrapassar sozinha.”
Esses padrões de pensamento levam a um fardo psicológico profundo e a um sentimento de alienação. Começamos a isolar-nos nas nossas experiências e a negar os aspectos coletivos da nossa opressão. Este isolamento psicológico é mantido pelo sistema, que recusa criar plataformas para as vozes das mulheres e disfarça sistematicamente as nossas experiências de violência, discriminação e tratamento desigual.
A resposta coletiva: a solidariedade como arma de resistência
A resposta a este isolamento não é fugir para o individualismo, mas sim a organização coletiva. Nós, mulheres, precisamos de ter consciência da natureza coletiva da nossa experiência e de estruturas de solidariedade para unir as nossas forças. O caminho para a libertação não pode ser encontrado na luta individual, mas na ação coletiva. Este movimento coletivo não só pode encorajar a resistência contra estruturas patriarcais, mas deve levar a uma reestruturação fundamental das condições sociais.
Abdullah Öcalan sublinhou repetidamente que a organização coletiva das mulheres não é apenas uma condição para a liberdade das mulheres, mas também para o sucesso de qualquer movimento revolucionário. A solidariedade entre mulheres, a sua colaboração e apoio mútuo são a base de qualquer movimento social transformador. A força que nos permite, enquanto mulheres, superar a violência patriarcal e transformar a sociedade vem da organização.
Resistir à violência sexual, do isolamento à solidariedade
A resistência à violência sexual é um exemplo central da necessidade de organização coletiva. A violência sexual contra mulheres é ignorada ou banalizada em muitas partes do mundo, especialmente em sociedades patriarcais. Esta violência torna-se uma parte invisível do tecido social, empurrando as mulheres para um isolamento profundo. A violência pode ser revelada e combatida através da criação de redes, de organizações de apoio às vítimas e de reelaboração coletiva das experiências. A educação ideológica e política deve sempre liderar estas redes, pois elas constroem a nossa resistência ideológica contra estes ataques.
Se encontrarmos uma forma ativa de lutar contra o sistema destrutivo em conjunto com outras mulheres, sentiremos a nossa agência e força de vontade crescer, o que também nos fortalecerá mentalmente para nos focarmos no nosso objetivo comum.
A violência sexual não deve ser vista como uma questão isolada – é um problema estrutural, social, profundamente enraizado nas estruturas patriarcais e nas normas sociais. A luta contra essa violência precisa de uma ampla transformação da sociedade baseada não apenas em abordagens individuais, mas numa resposta coletiva que dê força às mulheres em todas as áreas da vida. Desta forma, podemos fortalecer-nos para organizar a resistência e combatê-la eficazmente em vez de apenas denunciar a violência.
O caminho para sair do isolamento passa pela criação de redes de solidariedade e movimentos políticos que enfrentem a violência patriarcal de forma coletiva. Movimentos feministas e organizações autónomas de jovens mulheres que unam mulheres de todos os grupos sociais e regiões geográficas são capazes de criar espaços de apoio e resistência. Aqui, as jovens mulheres podem viver a sua força coletiva, partilhar as suas histórias e desenvolver uma estratégia coletiva de resistência. Esta é a chave para quebrar o poder aparentemente inquebrável do sistema patriarcal – através da solidariedade e da comunidade.
Libertação política: a luta organizada como base para uma nova sociedade
As implicações políticas da organização coletiva são profundas. Não só Abdullah Öcalan, mas muitos movimentos feministas globais veem o papel central da libertação das mulheres na transformação da sociedade como uma questão fundamental. Para Öcalan, a libertação das mulheres das normas patriarcais e da exploração capitalista é condição prévia para qualquer revolução. Um movimento revolucionário que luta pela liberdade e bem-estar de todos os seres humanos tem de entender o bem-estar das mulheres como o centro da sua teoria e prática. Só uma sociedade que reconheça as mulheres na sua plena liberdade e lhes permita participar igualmente nos processos sociais pode ser considerada justa.
Este pensamento não é uma utopia vazia, mas um objetivo político prático que pode ser alcançado através da força organizada das mulheres. Em muitas regiões do mundo, já vemos exemplos de movimentos de mulheres organizadas e partidos políticos que lutam com sucesso contra a violência patriarcal e a injustiça social. Esses movimentos não só resistem ao sistema existente, mas propõem uma alternativa às estruturas patriarcais autoritárias do passado.
A transformação política e social que foi criada pelas lutas do movimento de mulheres curdas inclui tanto a questão da participação política como da emancipação cultural e social. Temos de questionar e superar normas tradicionais que restringem as mulheres a um papel restrito e oprimido. Este caminho precisa de uma revolução política e cultural para reconhecer as mulheres como protagonistas iguais em todas as áreas da sociedade.
O caminho para a linha da frente: uma sociedade de resistência e solidariedade
A resistência contra o sexismo e a violência patriarcal precisa de uma postura revolucionária que vá além do protesto individual e vise a organização coletiva. Isto significa enfrentar a discriminação e violência diárias e, ao mesmo tempo, atacar as estruturas mais profundas do sistema.
A visão política de Abdullah Öcalan oferece uma orientação clara para essa resistência. A sua teoria do Confederalismo Democrático visa uma sociedade baseada na solidariedade, igualdade e democracia direta. Essa sociedade considerará as mulheres como protagonistas iguais a moldar o futuro da sociedade, não como seres subordinados. As jovens mulheres têm de se organizar globalmente como parte da resistência global contra a exploração, opressão e violência patriarcal para concretizar essa visão. Os movimentos de mulheres que surgem em muitas partes do mundo são passos importantes nesse caminho. Esses movimentos não lutam apenas pelos direitos das mulheres, mas também por uma transformação profunda e total das condições sociais, económicas e políticas. Opondo-se ao capitalismo, ao Estado-nação e ao patriarcado numa luta unificada.
A liberdade das mulheres é uma questão de igualdade dentro do sistema existente e também um movimento político profundo que visa mudar as estruturas da sociedade na sua totalidade.
A resistência colectiva como chave para a liberdade
A liberdade da jovem mulher está intimamente ligada à libertação da sociedade como um todo. Jovens mulheres em luta por todo o mundo provam todos os dias que essa resistência é possível. Desde as ruas do Curdistão até à Índia, jovens mulheres arriscam as suas vidas para gritar “Jin, Jiyan, Azadî”. No Chile, mulheres transformam a canção “Un violador en tu camino” num grito internacional. Na Europa, estudantes e trabalhadoras revoltam-se contra estruturas patriarcais na educação e na vida quotidiana. Em Rojava, as mulheres lutam e lideram a construção de uma sociedade democrática.
Estes exemplos não são exceções – são a expressão de um despertar global. Onde quer que nós, jovens mulheres, lutemos juntas, algo novo é criado: consciência, coragem, capacitação – mas acima de tudo um processo coletivo que destrói o molde da impotência pessoal. A mais recente mensagem de Abdullah Öcalan à juventude disse, por esta razão:
"Organizem-se – e organizem os outros”






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